Recebi um ótimo texto do Sidney Junior, assessor de imprensa do América de Teófilo Otoni, falando das goleadas sofridas pelo time nos dois últimos jogos.
Concordo com ele e sou solidário, além de parabenizar a cidade e a todos do clube pela campanha invejável no Campeonato.
Que o Dragão esteja tão forte como agora, em 2012, ou até mais forte ainda.
Um time que mesmo sendo goleado, em momento algum apelou para pontapés ou qualquer baixaria, bem comum a muitos clubes até famosos nacionalmente, que não sabem perder:
* “A Teófilo Otoni do América (depois de duas goleadas)”
Como pode um time que tinha a segunda melhor defesa do campeonato nas 10 primeiras rodadas, tomar 15 gols em dois jogos? Nem os próprios jogadores são capazes de responder. O técnico Gilmar certamente tem uma resposta, mas não precisa explicar agora Gilmar.
A torcida teófilo-otonense que acordou triste, mesmo os cruzeirenses, assim como foram os atleticanos na semana passada, não despreza o que foi feito até aqui. O torcedor sabe do esforço dos jogadores e o inédito título de campeão do interior ecoa por todos os cantos do Mucuri.
Não é a Libertadores, não é o Campeonato Brasileiro, nem a Copa do Brasil. É a Taça de Campeão do Interior de 2011. O maior título da história do América em seus 75 anos de existência. É insignificante para paulistas, cariocas, gaúchos e os mineiros da nossa afável capital. Mas é tudo que temos e damos o maior valor para isso. A partir desta segunda-feira, a Taça deverá ficar exposta no local de maior destaque na sede do clube.
O torcedor que ontem sofreu com o América de Teófilo Otoni, nas goleadas para o Atlético e Cruzeiro, certamente está diante da TV torcendo por seu grande time, nas finais dos campeonatos estaduais. E não tem problema. O América não quer concorrer com os grandes. América de T.O., como é chamado, quer apenas ser considerado por sua torcida e seus conterrâneos, como o atacante Fred, do Fluminense, que da concentração, gritou para todos que acompanhava o time da cidade.
Sabe o que faz um time tomar 15 gols em duas partidas? A vontade de crescer, de tentar desafiar os perigos sem se importar com as consequências. E isso, às vezes, custa caro.
Na verdade, ninguém nasce torcedor do América de Teófilo Otoni, do Ituiutaba, do Tupi de Juiz de Fora, da Caldense. Todos tem um primeiro time de coração, e o clube do interior é sempre aquela paixão particular, vinda das raízes, dos sentimentos de infância, da família e dos amigos.
Sim, é bonito ver o Cruzeiro jogar. É emocionante ver a estrutura e toda a logística de um time que pode pagar R$ 400 mil para fretar um avião.
Sim, é bonito ver a força do Atlético diante de sua torcida. É agradável estar num estádio capaz de receber um grande público, com boas acomodações que não temos no interior.
O pior da goleada é o dia seguinte. Assistir e ouvir programas esportivos é o momento mais desagradável. Não pelas críticas, na maioria das vezes fundamentadas apenas no futebol dentro de campo, mas quando elas vem carregadas de preconceitos contras os pequenos e limitados clubes do interior.
Enquanto que pra jogar na capital, o América sai dois dias antes, de ônibus, correndo os riscos das perigosas estradas mineiras, Cruzeiro e Atlético tem o poder de fretar três, quatro aviões para vir a Teófilo Otoni horas antes do jogo e voltar logo em seguida.
Ainda na noite deste sábado, os jogadores do Cruzeiro já estavam em suas residências, no aconchego dos seus familiares, felizes pelo dever cumprido. Quando jogam fora de casa, os jogadores do América e de todos os outros clubes do interior passam a noite dentro do ônibus, e só no dia seguinte chegam em suas residências.
Culpa dos clubes grandes que tem um poderio econômico melhor? Não. Claro que não. Futebol profissional é muito caro, envolve muito dinheiro, e os grandes usufruem merecidamente de um determinado privilégio.
A folha salarial de R$ 120 mil do América-TO não passa nem perto do que Cruzeiro e Atlético gastam com publicidade. E o que justifica a presença do América na semifinal do Campeonato Mineiro? Fácil. A vontade de um grupo desconhecido de jogadores em conquistar um espaço no futebol. Aliados a um técnico competente, foram eles que conseguiram isso para o Mecão do Mucuri.
É lógico que esse humilde sucesso passa por uma diretoria que não mede esforços para gerir um clube nos moldes do futebol moderno. Salários em dia, logística de viagens, profissionais em todas áreas, são os detalhes que fizeram a diferença em favor do América.
Quando ofendem os pequenos do interior, pedem o fim dos estaduais, não sabem da importância que é ter Atlético e Cruzeiro jogando sob o carinho e a emoção da torcida interiorana, que nem mesmo uma goleada de 8 a 1 é capaz de fazê-los partir pra violência, de ofender alguém, ou quebrar a sede do clube como fazem nas capitais.
Aqui, os jogadores podem ganhar ou perder o jogo e ir pra casa a pé, na companhia de desconhecidos que comentam sobre o jogo e depois pedem um autógrafo. Aqui no interior, os atletas não se preocupam com ameaças e hostilidades, porque a torcida do interior ama de verdade a cidade, o seu povo, sem se importar com os resultados.
Assistir partidas dos grandes clubes é mais agradável por toda a robustez econômica e glamour que os envolve. O Nassri Mattar, em Teófilo Otoni, talvez seja o único estádio que os grandes de Minas jogam e a maioria da torcida torce para o adversário, nesse caso, o América.
Não é por acaso que o América é dono da quarta média de púbico do Campeonato e o terceiro na média de renda, o que significa que o ingresso não custa apenas R$ 2,00. A torcida vai ao estádio porque gosta do América.
As duas goleadas sofridas pelo Dragão do Corcovado não vai tirar o ímpeto da diretoria em continuar trabalhando, como fez há três anos ao tirar o América da terceira divisão do futebol mineiro. O torcedor de Teófilo Otoni também não vai se importar com as críticas ao time. O elogio veio quando teve que vir e as críticas idem.
Se amanhã o América entrar em campo para enfrentar o Cruzeiro, Atlético ou o Juventus de Minas Novas, eles estarão lá, apoiando e sentindo a mesma emoção de sempre. Obrigado América pela emoção de 2011, por nos fazer sofrer, por nos fazer vibrar.
Eu também torço por um clube grande do futebol brasileiro, mas assim como eu, milhares de teófilo-otonenses tem um caso especial com o América, o de Teófilo Otoni, como gostamos de deixar claro.
Torcer pelos grandes é bem mais fácil, o difícil é ter quem sofra de fato por amor, pelos pequenos do interior.
Avante Mecão!
OBS.: O texto está publicado no site oficial do América. http://www.afcto.com.br/noticias/?noticia=552&titulo=A%20Te%F3filo%20Otoni%20do%20Am%E9rica,%20depois%20de%20duas%20goleadas
Sidney Junior
Assessor de Imprensa América Futebol Clube