O ex-artilheiro do Goiás e Botafogo entrou para a política e está mostrando que trata-se de apenas mais um, dentre tantos políticos imprestáveis do país.O vereador Túlio durante a campanha de 2008, em Goiânia
Reportagem de O Globo, do dia 6:
“PISADA NA BOLA DE TÚLIO MARAVILHA”
Como vereador em Goiânia, ídolo do Botafogo contratou goleiro-fantasma
Cássio Bruno e Isonilda Souza*
GOIÂNIA. Ídolo da torcida do Botafogo e campeão brasileiro pelo alvinegro, em 1995, Túlio Maravilha, de 41 anos, marcou um gol contra na carreira política. Eleito vereador por Goiânia, em 2008, pelo PMDB, o jogador — hoje atacante de outro Botafogo, o do Distrito Federal — nomeou, como assessor-chefe de Gabinete, Lauro José de Araújo Filho. Lauro é goleiro do Morrinhos, time da primeira divisão do campeonato goiano. Com salário de R$3.420 mensais, o goleiro nunca bateu ponto no trabalho, mas se apresenta todos os dias nos treinos do clube, a 182 quilômetros da Câmara.
Além de Lauro, Túlio empregou no gabinete a mãe do goleiro. Helena Borges de Araújo foi contratada para ser assessora especial legislativa I, com vencimentos de R$2.916 por mês. Assim como o filho, Helena não dá expediente na Casa. As nomeações foram publicadas no Diário Oficial do município em 26 de outubro do ano passado, logo depois de Túlio ter sido derrotado nas urnas para deputado estadual.
Túlio dispõe de R$30 mil de verba de gabinete para bancar 21 assessores comissionados, com salários entre R$500 e R$3.420. O GLOBO esteve no gabinete do jogador na quarta-feira passada. Apenas duas assessoras atendiam a quem procurava pelo veredor. No mesmo dia, Túlio estava em Natal, onde disputou uma partida da Copa do Brasil pelo Barras, do Piauí, clube ao qual estava emprestado.
— Ele não veio esta semana porque está resolvendo umas coisas — justificou a secretária Luciana Machado de Oliveira.
Já ex-funcionários do gabinete de Túlio denunciam outro esquema: o atacante ficava com parte dos salários de seus assessores mensalmente. A enfermeira Fernanda Kalline de Araújo Leite, de 25 anos, ex-assessora de gabinete 3, conta ter sido obrigada a transferir para o vereador R$400 dos R$875 líquidos que ganhava no cargo. Ela foi exonerada em dezembro.
— Todos eram obrigados a devolver parte do salário, e ninguém aparecia para trabalhar — revela Fernanda.
Segundo denúncia de ex-assessores, os contratos de Túlio com alguns clubes também são suspeitos de irregularidades, e o jogador já teve que dar explicações sobre eles à Receita Federal. Túlio alega que o goleiro e a mãe dele foram exonerados em novembro. Mas não é o que consta na folha de pagamento da Câmara, referente a fevereiro deste ano, e obtida pelo GLOBO. Ambos estão no documento como funcionários do gabinete. O jogador nega as acusações de ex-assessores e possíveis irregularidades no pagamento de seus contratos.
— Já resolvi tudo com a Receita e prestei esclarecimentos ao Ministério Público. Comigo é assim: apareceu denúncia, eu mostro a defesa. Comigo é ficha limpa — disse ele, que sonha em fazer o milésimo gol. Segundo as contas do atacante, já tem 956.