Alguns colegas da imprensa não dão tanto valor ao trabalho dos treinadores.Fotos: Renato Pizzutto/ Alexandre Battibugli
Penso diferente. Entendo que são fundamentais. Óbvio que são os jogadores que resolvem dentro de campo, e não há como medir quem é mais importante, já que o futebol é esporte coletivo. Cada um tem a sua missão e ninguém ganha sozinho.
Até craques acima da média precisam do conjunto para dar seus espetáculos, marcar gols ou dar passes fantásticos e garantirem títulos aos seus times.
Quando o treinador é acima da média e tem grandes jogadores no elenco, ninguém segura.
Veja o Muricy Ramalho, fã e discípulo confesso do Telê Santana, de quem foi jogador e auxiliar.
Está superando o Mestre, pois aprendeu com os erros do antigo chefe e com os seus próprios.
Os simplistas gostam de dizer que com craques em campo, nem há necessidade de treinador. Nada a ver!
Lidar com estrelas não é para qualquer um, especialmente quando a vaidade ou teimosia do treinador se choca com a vaidade do craque. Todos perdem, e há incontáveis casos de grandes elencos, com grandes treinadores, que não deram certo.
Murciy: tri-brasileiro com o São Paulo. Alguns críticos disseram: “dirigir o São Paulo é fácil, pois se trata do clube mais organizado do país”.
Tá! Daí a pouco, campeão nacional com o Fluminense, possivelmente o grande clube brasileiro mais avacalhado e sem estrutura do Brasil!
Pegou o Santos com o barco à deriva, e em pouco tempo foi campeão paulista e da Libertadores!
E há decisões complicadas a serem tomadas em momentos cruciais.
Ontem, por exemplo: você escalaria o Ganso, ainda mais como titular, voltando de contusão séria? Um bom tempo sem jogar?
A maioria diz agora que sim, pois craque tem que jogar!
Pois é! Zagallo tomou decisão semelhante e escalou Ronaldo na final da Copa da França, e deu no que deu!
Além do Muricy, vale destacar nessa conquista, o próprio Ganso, líder, corajoso e de passes magistrais.
Danilo, o do América, que vê mais uma cria sua ajudando um grande clube a fazer história pelo mundo! E ainda por cima com um gol importantíssimo!
E, claro: Neymar!
Que dispensa mais comentários!
Danilo comemora o segundo gol do Santos
Mais detalhes do Muricy nessa reportagem do site da Veja
* Libertadores
Muricy, o papa-títulos, conquista a taça que lhe faltava
A média é impressionante: desde 2001, um título por ano. Faltava acabar com a fama de ‘pé-frio’ em mata-matas. E aí veio a conquista da América pelo Santos
No futebol, como na vida, a história se repete: Muricy Ramalho conquistou mais um título. O tetracampeão brasileiro é um dos técnicos mais vencedores do Brasil. Foi assim na maioria dos times onde passou: Internacional, São Paulo, Fluminense e, agora, no Santos. Muciry começou sua carreira como aprendiz de Telê Santana, melhor treinador da história do futebol brasileiro. Aprendeu que jogadores de futebol precisam de conversa, mas, acima de tudo, muito trabalho. Com a conquista da Libertadores, o treinador quebra o único estigma negativo que ainda o perseguia – o de não conseguir vencer grandes competições no formato “mata-mata”, principalmente a Libertadores – que tinha deixado escapar pelo São Paulo, em 2006, contra o Inter.
Seu primeiro título foi em 1994, quando conquistou a Copa Conmebol como comandante são-paulino. De lá para cá ele já amealhou outras dez conquistas. A trajetória de grande campeão começou em 2001, no Náutico, quando ficou com o título do Campeonato Pernambucano – ele também conquistou o mesmo torneio no ano seguinte. Muricy tem um incrível retrospecto de faturar, em média, um campeonato por ano. A exceção foi 2009, quando deixou o São Paulo e transferiu-se para o Palmeiras, onde ficou quase sete meses. Em 2003, foi campeão gaúcho com o Internacional, torneio que voltou a vencer em 2005. No intervalo, em 2004, conquistou o título paulista com o São Caetano. Assumiu o São Paulo e foi tricampeão brasileiro em 2006, 2007 e 2008. Voltou a conquistar título em 2010, depois de assumir o Fluminense e sagrar-se campeão brasileiro.
No Fluminense (à esq.) ele foi campeão brasileiro, no São Paulo (centro) foi tricampeão brasileiro e no Internacional foi bicampeão gaúcho
Muricy deixou o time carioca no começo de 2011 reclamando da falta de estrutura do clube e das promessas não cumpridas pela diretoria carioca. O treinador assumiu o Santos no começo de abril. A equipe paulista passava por um momento delicado. O interino Marcelo Martelotte assumiu após a demissão de Adilson Batista, que permaneceu no comando durante onze jogos. Os maiores desafios do novo treinador eram arrumar a defesa e domar o jovem craque Neymar, que tinha sido o pivô da saída do técnico anterior, Dorival Junior.
Em pouco mais de um mês de trabalho, Muricy garantiu seu primeiro título à frente do Santos: foi campeão paulista, depois de vencer o Corinthians na final. O treinador conseguiu que Neymar mostrasse seu melhor futebol, deixando o garoto longe das polêmicas. A zaga já não é mais uma grande preocupação. O sistema defensivo passou a funcionar melhor, e o Santos parou de ser presa fácil para os atacantes adversários. Pouco afeito ao estilo marqueteiro de alguns colegas de profissão, Muricy não tem teorias mirabolantes para explicar seu sucesso. O bordão que tornou famoso – “Aqui é trabalho, meu filho!” – já diz tudo sobre a fórmula adotada para conquistar tantos títulos.
* http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/muricy-ramalho-o-treinador-papa-titulos