Na imprensa mineira Ney Franco é quase uma unanimidade.
Só não digo que seja unanimidade porque sou seguidor do Nelson Rodrigues, que dizia: “toda unanimidade é burra”.
Além do mais, nunca conversei com toda a imprensa de Minas, um Estado/Nação, com seus 586.528 km² de extensão territorial, do tamanho de países como Alemanha, França e Espanha, com quase 21 milhões de habitantes.
O mesmo querido Nelson Rodrigues disse que o “mineiro só é solidário no câncer” e creditou a frase, de forma sacana (com era o seu jeito de lidar com os seus melhores amigos), ao grande mineiro Oto Lara Rezende, um dos nossos intelectuais da prateleira de cima.
Mas a brincadeira do Nelson, que tratou-se de uma tuberculose em nossas montanhas (São Lourenço), tem um fundo de verdade.
No futebol, por exemplo: nossos maiores clubes nunca dão a primeira oportunidade aos treinadores mineiros.
Ney Franco é o exemplo mais atual, mas a nossa memória curta nos faz esquecer que Telê Santana e Carlos Alberto Silva, que dirigiram a seleção brasileira, só foram valorizados por mostrar serviço fora de nossas fronteiras.
O sujeito precisa provar que é bom lá fora para ser reconhecido aqui.
Depois do sucesso longe, vamos ver quem será o nosso primeiro grande a contratar o Ney. Questão de tempo.
Veja a reportagem de hoje, da Folha de SP, sobre o técnico campeão mineiro e vice com o Ipatinga, e mesmo assim não prestigiado por Galo e Raposa em seus times principais.
Alguém vai me escrever ou ligar dizendo que o Atlético foi o primeiro clube profissional do Telê, porém, ele ficou famoso como jogador e depois treinador dos juniores do Fluminense antes, no Rio de Janeiro.
Ou, que Ney Franco dirigiu o Cruzeiro, como “técnico-tampão”, por alguns jogos. Foi a única vez que o Zezé Perrella afinou como presidente do Cruzeiro. Era doido para efetivar o Ney, mas temia a reação da torcida e dos cornetas internos.
A reportagem é essa aí:
“franquismo”
Na despedida do Sul-Americano, seleção brasileira sub-20 enfrenta o Uruguai para carimbar sua vaga nos Jogos de Londres e consagrar estilo refinado e de muita conversa de Ney Franco, seu treinador
MARTÍN FERNANDEZ ENVIADO ESPECIAL A AREQUIPA
A seleção brasileira sub-20 joga na madrugada deste domingo (0h10 de Brasília) para tentar conquistar o título do Sul-Americano da categoria, contra o Uruguai. Joga também para consagrar uma nova maneira de dirigir a seleção brasileira, sobretudo fora de campo.
A seleção chega à última rodada do hexagonal final com nove pontos, contra dez do Uruguai, que joga por um empate para ficar com o troféu. Se a Argentina não vencer a Colômbia na preliminar, o Brasil já entrará em campo com a vaga garantida para a Olimpíada -os dois primeiros vão a Londres-12. O Brasil tem hoje a chance de ganhar seu primeiro troféu depois do fim da era Dunga, que foi marcada pela truculência e pelo isolamento das categorias de base.
Ney Franco é o primeiro técnico de divisões inferiores a ter sido indicado diretamente pelo treinador do time principal. No caso, Mano Menezes, que até viajou a Arequipa para acompanhar de perto o trabalho da equipe.
Neymar, por exemplo, só será convocado para a disputa do Mundial sub-20, em julho e agosto, se Mano Menezes não levá-lo para a Copa América, em julho. “É o Mano quem decide isso”, declarou Ney Franco ontem.
O ex-técnico de Flamengo, Botafogo e Coritiba é também o primeiro treinador consagrado a dirigir uma seleção sub-20. Seus antecessores foram Rogério Lourenço, Nelson Rodrigues, Renê Weber e Marcos Paquetá. Ao longo da competição no Peru, Franco mostrou o quanto é diferente de Dunga.
Formado em educação física pela Universidade Federal de Viçosa em 1992, o técnico trabalhou com divisões inferiores durante a maior parte da carreira. Foram três anos no Atlético e mais dez no Cruzeiro.
Ney Franco soube lidar com Neymar, um jogador muito diferente dos demais no grupo -tem tratamento de astro no clube que defende, convocações para a seleção principal e salário muitas vezes maior que o dos companheiros de sub-20. Com o grupo que está no Peru, o técnico conquistou a vaga no Mundial da categoria e praticamente assegurou uma vaga na Olimpíada de Londres, em 2012. Nem por isso garantiu aos jogadores que eles estarão no Mundial sub-20. “Eu e meus observadores vamos analisar outros jogadores. O grupo pode mudar”, disse Franco, em atitude oposta à do ex-técnico da seleção principal. Nem por isso os atletas se queixam. “Se vou para o Mundial, não sei. Mas tenho que agradecer ao Ney Franco pela oportunidade”, declarou o zagueiro Danilo.
NA TV Brasil x Uruguai 0h10 Band, ESPN Brasil, Sportv e Esporte Interativo
TÉCNICO NÃO TEVE CARTOLAS POR PERTO
O time sub-20 foi ignorado pela cartolagem da CBF. Nenhum dirigente da confederação foi ao Peru, como fez o presidente da associação uruguaia, Sebastian Bauzá, que está em Arequipa, e o diretor de seleções da Argentina, Humberto Grondona -filho do presidente da AFA.
Neymar volta na “final” e rejeita rótulo de jogador indisciplinado
DO ENVIADO A AREQUIPA
Neymar volta a ser titular pela seleção sub-20 contra o Uruguai, depois de ter cumprido suspensão.
O comportamento do astro santista foi amplamente elogiado pelo técnico Ney Franco. “Ele respeitou muito ao grupo e ao treinador”, disse.
Em entrevista coletiva, Neymar respondeu: “Eu fico feliz com os elogios, mas nunca tive problema fora de campo, sempre fiz amizade fácil com todo mundo”. Confrontado com o caso Dorival Jr. (demitido do Santos por brigar com o atacante), Neymar foi seco. “Aquilo foi um caso à parte, evoluí.” Neymar disse que foi “maravilhoso” ter disputado o Sul-Americano sub-20, apesar de ter perdido as férias e o início da temporada com o Santos. “Vou lembrar para o resto da minha vida.”
O atacante tem hoje a chance de ganhar seu primeiro título com a seleção brasileira. No Mundial Sub-17, disputado em 2009, o time do qual ele fazia parte caiu na primeira fase. “Tomara que o último jogo seja o meu melhor”, disse Neymar, artilheiro da competição, com sete gols. “Mas não ligo para ser artilheiro, quero ser campeão.” Para o camisa 7 da seleção brasileira, a disputa entre jogadores da mesma idade é mais corrida do que o Campeonato Brasileiro, por exemplo. “Lá [no Nacional] é mais cadenciado. Aqui é ataque toda hora, porrada para todo lado.” (MF)