Lembra do Kerlon, apelidado como “foquinha”?
Continua vivendo o drama de sucessivas contusões, mas o futebol que mostrou por curto período no Cruzeiro ainda atrai interessados.
É contratado da Inter de Milão.
E o Ramon?
Aquele com quem a torcida do Atlético andou iludida durante um bom tempo e depois foi enganar em outras praças, inclusive no Flamengo recentemente!
Sábado estes e outros jogadores dessa safra, que não explodiram, por um motivo ou por outro, foram alvo de uma boa reportagem da Folha de S. Paulo, com destaque para Kerlon:
“focado”
Após passar por 5 cirurgias, Kerlon, 22, se vê mais maduro, prepara a volta ao futebol por baixo e se diz “doido” para aplicar drible que o notabilizou
RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO
Há cinco anos, Kerlon era uma aposta de craque para o futebol brasileiro. Hoje, transformou-se em um jogador atormentado pelas lesões, quase esquecido.
O meia-atacante chamou a atenção no Sul-Americano sub-17 de 2005 graças ao “drible da foca”, jogada em que fazia embaixadinhas com a cabeça. Foi craque e artilheiro do torneio.
O sucesso lhe deu dinheiro e chance no Cruzeiro. Mas seu corpo não estava pronto. Já são cinco cirurgias, “duas de tornozelo e três de joelho”, e um longo período afastado dos gramados.
“Minha última partida foi no começo da temporada passada, pelo Ajax. Daí, machuquei o joelho. Depois, descobri uma lesãozinha no tornozelo e fiz mais uma cirurgia”, declarou o jogador, 22, que está fazendo tratamento em Belo Horizonte.
Desde que virou profissional, Kerlon pouco atuou. Sua última sequência foi no Brasileiro de 2007. No começo do ano seguinte, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Antes de ficar totalmente curado, embarcou para a Europa.
No Chievo, enfrentou mais lesões e só disputou quatro partidas. Mesmo assim, foi para a Inter de Milão no verão seguinte. Mas nunca entrou em campo. Acabou emprestado ao Ajax e voltou a machucar o joelho.
“Nunca me machuquei sozinho. Sempre foi na base da pancada. Só estou inteiro até hoje porque tenho uma cabeça muito forte. Sempre acho que vou me recuperar. Só vou parar mesmo quando não tiver mais jeito”, afirmou Kerlon, que tenta tirar lições positivas do caminho doloroso tomado pela sua carreira.
“Por eu ter saído muito novo de casa, com 13, 14 anos, fiquei ausente da família. Essas lesões fizeram com que eu me aproximasse deles. Passei a ver o mundo de forma diferente. Muitos jogadores da minha idade têm cabeça fraca, acham que podem tudo porque ganham muito dinheiro. A experiência de vida me fez ser homem.”
O que poderia ter acontecido se não fossem as lesões? “Nem tento imaginar onde eu estaria hoje. Poderia estar em um lugar melhor, mas não seria o mesmo. Vou recomeçar minha carreira. Ninguém desaprende a jogar.”
Kerlon falou que estará apto para jogar em dois meses. Aí, terá outro desafio. Além de evitar contusões, terá que reconstruir sua carreira no time que mal o conhece.
O “Foquinha” nunca falou com o técnico da Inter, Rafa Benítez. Seu plano para o futuro passa por novo empréstimo para um time menor. Sua intenção é ganhar ritmo de jogo e se mostrar digno de atuar pela campeã europeia.
“Não fiz nada no futebol para estar em um clube como a Inter. É bom saber que tem gente que ainda confia em mim. Eu recebo meu salário, tenho família para criar. É isso que me consola. Quero voltar logo para retribuir tudo isso. A pressão na Inter é muito grande. Melhor jogar em um time pequeno antes.”
Perguntado se ele pretende voltar a usar o “drible da foca”, considerado uma forma de menosprezo por adversários, ele respondeu: “Estou doido para isso”.
Trajetória é comum na safra de 1988
DE SÃO PAULO
Kerlon não é o único de sua geração que brilhou na base, criou expectativa e não cumpriu o prometido.
Os meias Ramon e Celsinho também despontavam como craques na seleção sub-17 de 2005 e decepcionaram posteriormente.
Ramon, cria do Atlético-MG, ganhava R$ 7.000 de salário antes de estrear como profissional. Em 2006, jogou pelo Corinthians graças a um acordo com a MSI. Depois, foi para o CSKA. Voltou da Rússia no começo do ano e teve passagem discreta pelo Flamengo.
O caminho de Celsinho, também passou pelo futebol russo. Após se destacar na Série B de 2005, foi negociado pela Portuguesa com o Lokomotiv. Em baixa, passou pelo Sporting, de Portugal, e retornou ao Canindé nesta temporada. Ficou no banco e deixou o time. Mas o clube português não quer sua volta.
“Existem duas fases de treinamento durante o dia, e uma noite comprida. Isso atrapalha um jovem sem experiência. O Celsinho mesmo disse que fez coisas que não faria hoje”, disse o Vágner Benazzi, que dirigiu o jogador na Portuguesa.
Mesmo o maior astro da safra nascida em 1988 não brilhou como o esperado.
Anderson surgiu no Grêmio como um fenômeno e se consagrou na “Batalha dos Aflitos”. Foi ídolo no Porto, mas se tornou apenas mais um jogador no Manchester United, onde atua como volante -antes, era meia-atacante. (RR)
Frase
“Não é possível que vou continuar me machucando até chegar aos 40 anos”
KERLON
meia-atacante da Inter