Foto: ge.globo.com/futebol/times/atletico-mg
Parabéns ao Fred Ribeiro, Guilherme Frossard e Pedro Spinelli pelo excelente trabalho nessa conversa com o maior presidente da história do Atlético. Tantas histórias, de tantos detalhes até a chegada ao título, que ao terminar a leitura fica aquela sensação de frustração em saber que dificilmente o Galo terá outros Kalil, Ronaldinho Gaúcho e essa geração fantástica que deu a maior alegria de todos os atleticanos na história.
* “Atlético-MG: a toalha, a profecia e o “delay” de Alexandre Kalil no título da Libertadores há exatos 10 anos”
Título do Galo completa uma década nesta segunda-feira e aquece memória do ex-presidente
Há 10 anos, uma bola bateu na trave e explodiu a vida do Atlético, na conquista do maior título esportivo do clube. Aquele barulho histórico, entretanto, foi visto com alguns segundos de atraso – o famoso delay – pelo então presidente do clube, Alexandre Kalil. Ele acompanhou a decisão da Libertadores de 2013 dentro do vestiário do Galo, no Mineirão.
É um passado presente todos os dias no apartamento do nono andar de um prédio no bairro de Lourdes (o mesmo onde está a sede do Galo). Em sua casa, Kalil, hoje com 64 anos, recebeu o ge para relembrar aquela conquista da virada do dia 24 para 25 de julho de 2013. Justamente um dos maiores símbolos da conquista, justamente a bola que bateu na trave de Victor, está na memorabília de Kalil.
“Aquele dia foi um acúmulo de emoções para chegar no ápice. Acho que só caiu a ficha quando entrei no gramado Mineirão. Porque eu estava lá embaixo (no vestiário). Quando entrei no Mineirão, eu senti o tamanho da festa e o tamanho da emoção que eu ia sentir.”
Logo na entrada do apartamento, réplicas de tamanhos reais do troféu da Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil de 2014, no crepúsculo da sua administração, iniciada em outubro de 2008. A taça original da conquista, inclusive dormiu com Kalil. Em um cômodo separado das salas de TV e de estar, há uma espécie de museu do Galo, ou de museu de Alexandre Kalil no Galo. Com referências ao seu pai, Elias Kalil, ex-mandatário entre 1980 e 1985.
Entretanto, há um objeto que não dialoga com o restante da decoração, ao menos visualmente. Mas é ele quem será o condutor do bate-papo no estilo “túnel do tempo” para a Libertadores de 2013. Trata-se de uma toalha de rosto rosa, devidamente esticada e enquadrada. Posição de destaque, ao lado da camisa de Ronaldinho Gaúcho devidamente preparada para a sua coletiva de despedida, em 2014.
Na entrevista, Alexandre cita várias vezes Elias Kalil. Falecido em 1993, o ex-dirigente do Galo chegou a profetizar, em 1983, logo após a conquista do hexacampeonato mineiro: “Agora que atingimos hexa, vamos ao Mundial”. Meta cumprida pelo filho, 30 anos depois. Na entrevista, Alexandre cita várias vezes Elias Kalil. Falecido em 1993, o ex-dirigente do Galo chegou a profetizar, em 1983, logo após a conquista do hexacampeonato mineiro: “Agora que atingimos hexa, vamos ao Mundial”. Meta cumprida pelo filho, 30 anos depois.
Alexandre Kalil segue tocando seus negócios pessoais, curte as cinco netas, alimenta sua paixão por motocicletas Harley-Davidson e ainda tem no currículo a prefeitura de Belo Horizonte (2017-2022), em dois mandatos. Recentemente, foi alvo de uma CPI (“Abuso de Poder”) na Câmara dos Vereadores.
No relatório final, realizado na sexta-feira, não houve imputação de irregularidades ao ex-chefe do executivo municipal. Um dos temas da CPI foi as contrapartidas da Arena MRV. O estádio, a Liga e até mesmo a votação da SAF do Atlético (aprovada na última quinta, seis dias depois da gravação da entrevista) são outros temas abordados por Kalil.

Alexandre beija a foto do pai, na galeria dos ex-presidentes do Galo na sede de Lourdes. Elias Kalil foi o presidente que modernizou o Atlético e pôs o clube no mapa do futebol mundial com as grandes excursões à Europa nos anos 1980.
LEIA A ENTREVISTA COM ALEXANDRE KALIL

Foto: twitter.com/ppedrospinelli
ge: Qual foi o primeiro pensamento após o título da Libertadores?
Kalil: “Não lembro (…) é muita coisa. Vem um turbilhão. Eu não lembro de nada. É um negócio completamente fora de contexto. Eu não esperava que o Atlético fosse campeão da Libertadores. Eu não esperava quando tudo começou. Isso demora pra gente. Primeiro que eu não estava no ambiente, eu estava solitariamente no vestiário do Mineirão (na final). Eu tive que me incorporar à festa pra começar a sentir. Eu lembro que eu estava com um filho do meu lado, o Felipe (Kalil, médico da Seleção), que é o mais velho, nós nos abraçamos na solidão do vestiário. Ainda mais nesse momento, vestiário fica vazio mesmo. Estava no vestiário com os dois roupeiros e o Felipe. Então, naquele momento, quando a bola explodiu… Antes de a bola explodir, eu escutei o Mineirão explodindo, porque tinha um delay da televisão do vestiário. Eu abracei, nos abraçamos, os roupeiros vieram também. Aí que nos fomos incorporar, sentir a festa.
E por que decidiu ver jogo no vestiário do Mineirão, pela TV?
– Por covardia. Eu estava apavorado. E eu estava com muito medo de perder. Nós tínhamos um 2 a 0 contra. Quem conhece de futebol sabe que dois contra… Então, fui pro vestiário por medo. Apavorado, fiquei lá trancado. O medo é uma coisa que você não compartilha. É tão vergonhoso que você fica sozinho. Meu filho só foi pro vestiário, não porque eu chamei, porque avisaram: ‘Seu pai tá no vestiário’. Deve ter acontecido alguma coisa. Aí, quando ele ficou e nós fizemos um gol, eu falei: ‘Agora você não vai sair. Vai ficar do meu lado’.
Houve algum momento que você teve aquela sensação de “deu merda”? (mais…)